quarta-feira, 19 de setembro de 2012


...E a vida continua!



            Diria que já não tinha qualquer dúvida, quanto à minha orientação sexual; mas se a tivesse, após aquela noite de Quinta Feira, 9 de Outubro de 1980, teria desaparecido por completo. Sentia-me perfeitamente adaptado e realizado no meu novo papel de “paneleiro” (sim, porque gay ou homossexual só entrou no vocabulário dos portugueses, dez ou vinte anos mais tarde).
            Pedro era um homem de vinte e sete anos de idade, bem parecido, muito elegante, de mais ou menos 1,75 mt de altura, com cerca de 80 Kg. Corpo bem musculado, moreno, cabelo preto, curto e bem tratado, bem barbeado mas de barba espessa. Os olhos, eram lindos, castanhos muito escuros, boca de lábios carnudos, com um sorriso aberto, onde deixava transparecer uns dentes excepcionalmente brancos. Era à data, um homem lindo, muito carinhoso, com muita boa disposição e acima de tudo, com uma paciência e uma ternura, que nos fazia sentir bem. Parece ridículo, dito assim, mas não tenho qualquer duvida em afirmar, que estava verdadeiramente apaixonado por ele.
            Apesar de homossexual, nunca fui afeminado, de aspecto também bastante másculo, e embora na presença do Pedro tentasse dar suavidade ao meu andar, não deixava de mexer as ancas para baixo e para cima, dando-lhe um toque de fêmea com cio.
            A nossa relação de amizade e cumplicidade vinha-se mantendo, com uma ligação cada vez mais forte, sendo já entretanto, visitas assíduas da casa de um e outro. Tudo com o máximo sigilo. Posso adiantar, que ainda hoje (passados trinta anos) somos amigos, e vamos fazendo a nossa “festança”.
            Mas sobre esse assunto, muitas outras “histórias” haverá para contar, noutra oportunidade, e se me quiserem aturar.
            Sara, no seu 1,67 mt de altura, 66 kg de peso, muito elegante, de seios médios e erectos, perna bem torneada, aliás, já tive a oportunidade de o afirmar, era o que se diz, uma “boa” mulher. Eu, não tinha dúvidas que nutria por ela uma grande amizade; ela era a Mãe dos meus filhos, mas realmente via-a como amiga, mas não como amante. Mas o que não deixa de ser verdade, é que gostava imenso de a partilhar, e com um pouco de esforço, lá a ia “alimentando” sexualmente.
            Sara e eu, éramos oriundos de famílias tradicionais e conservadoras, o que seria impensável uma separação entre ambos, e muito mais, pelo motivo que era. Eu, por cobardia, com medo do “estigma” colocado pela sociedade hipócrita e conservadora em que vivíamos, e vivemos, também não tive a coragem de publicamente assumir a minha tendência, pelo que tudo continuou, mais ou menos na mesma, pelo menos até aos dias de hoje.
            A minha pressão sobre Sara para o exibicionismo continuava, o que lhe agradava totalmente a ela e a mim e discretamente ia-a iniciando numa mentalização para ir mais além, isto é, arranjar amizades intimas. Pedro era uma das pessoas que eu veria com bons olhos nessa situação; mas tal, julgo eu, nunca aconteceu, embora tivesse havido várias tentativas.
            Eu, embora trabalhasse numa empresa multinacional, quase que me poderia considerar “trabalhador liberal”, o que financeiramente me permitia ter Sara em casa, a tratar dos filhos; mas ela não aceitava essa situação; preferia trabalhar, e ter em casa uma empregada dois ou três dias semanais. Os filhos, esses foram para o infantário.
            Eu próprio, em tempos lhe arranjei um emprego como “tradutora” de uma empresa, também multinacional, o que lhe permitia uma certa liberdade financeira, e não só.
            E assim, os dias iam passando, aproveitando ao máximo, principalmente os fins de semana e noites, quando possíveis. Para o trabalho, Sara ia “discretamente” vestida, tendo só os maiores desvarios que se possa imagina, nas suas horas privadas. Pessoalmente, achava bem! “Trabalho é trabalho e Conhaque é conhaque”!... Mas não parecia a mesma!
            Problemas financeiros, não os havia, o que nos permitia levar uma vida desafogada, com fins de semana, férias, convívios, enfim, uma vida compatível com “classe média alta”. Há data, ainda vivíamos em casa alugada; um andar na zona da Boavista, espaçoso, bem localizado, mas com uma grande “falha”: - Não tinha garagem.
            Os nossos dias de semana, iniciavam-se sempre com o levar os filhos ao infantário, passando pelo local de trabalho da Sara, e após, o que seguia para a minha vida. O almoço raramente era junto. Vida normal, de um casal aparentemente normal.
            Com a nossa forma (esquisita) de viver, íamos contudo tendo uma razoável harmonia. Se cada um enfrentasse a sociedade e suas consequências, e assumisse frontalmente a sua forma de estar na vida, diria que éramos felizes.

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