...E a vida continua!
Diria que
já não tinha qualquer dúvida, quanto à minha orientação sexual; mas se a
tivesse, após aquela noite de Quinta Feira, 9 de Outubro de 1980, teria
desaparecido por completo. Sentia-me perfeitamente adaptado e realizado no meu
novo papel de “paneleiro” (sim, porque gay ou homossexual só entrou no
vocabulário dos portugueses, dez ou vinte anos mais tarde).
Pedro era
um homem de vinte e sete anos de idade, bem parecido, muito elegante, de mais
ou menos 1,75 mt de altura, com cerca de 80 Kg. Corpo bem musculado, moreno,
cabelo preto, curto e bem tratado, bem barbeado mas de barba espessa. Os olhos,
eram lindos, castanhos muito escuros, boca de lábios carnudos, com um sorriso
aberto, onde deixava transparecer uns dentes excepcionalmente brancos. Era à
data, um homem lindo, muito carinhoso, com muita boa disposição e acima de
tudo, com uma paciência e uma ternura, que nos fazia sentir bem. Parece
ridículo, dito assim, mas não tenho qualquer duvida em afirmar, que estava
verdadeiramente apaixonado por ele.
Apesar de
homossexual, nunca fui afeminado, de aspecto também bastante másculo, e embora
na presença do Pedro tentasse dar suavidade ao meu andar, não deixava de mexer
as ancas para baixo e para cima, dando-lhe um toque de fêmea com cio.
A nossa
relação de amizade e cumplicidade vinha-se mantendo, com uma ligação cada vez
mais forte, sendo já entretanto, visitas assíduas da casa de um e outro. Tudo
com o máximo sigilo. Posso adiantar, que ainda hoje (passados trinta anos)
somos amigos, e vamos fazendo a nossa “festança”.
Mas sobre
esse assunto, muitas outras “histórias” haverá para contar, noutra
oportunidade, e se me quiserem aturar.
Sara, no
seu 1,67 mt de altura, 66 kg de peso, muito elegante, de seios médios e
erectos, perna bem torneada, aliás, já tive a oportunidade de o afirmar, era o
que se diz, uma “boa” mulher. Eu, não tinha dúvidas que nutria por ela uma
grande amizade; ela era a Mãe dos meus filhos, mas realmente via-a como amiga,
mas não como amante. Mas o que não deixa de ser verdade, é que gostava imenso
de a partilhar, e com um pouco de esforço, lá a ia “alimentando” sexualmente.
Sara e eu,
éramos oriundos de famílias tradicionais e conservadoras, o que seria
impensável uma separação entre ambos, e muito mais, pelo motivo que era. Eu,
por cobardia, com medo do “estigma” colocado pela sociedade hipócrita e
conservadora em que vivíamos, e vivemos, também não tive a coragem de
publicamente assumir a minha tendência, pelo que tudo continuou, mais ou menos
na mesma, pelo menos até aos dias de hoje.
A minha
pressão sobre Sara para o exibicionismo continuava, o que lhe agradava
totalmente a ela e a mim e discretamente ia-a iniciando numa mentalização para
ir mais além, isto é, arranjar amizades intimas. Pedro era uma das pessoas que
eu veria com bons olhos nessa situação; mas tal, julgo eu, nunca aconteceu,
embora tivesse havido várias tentativas.
Eu, embora
trabalhasse numa empresa multinacional, quase que me poderia considerar
“trabalhador liberal”, o que financeiramente me permitia ter Sara em casa, a
tratar dos filhos; mas ela não aceitava essa situação; preferia trabalhar, e
ter em casa uma empregada dois ou três dias semanais. Os filhos, esses foram
para o infantário.
Eu próprio,
em tempos lhe arranjei um emprego como “tradutora” de uma empresa, também
multinacional, o que lhe permitia uma certa liberdade financeira, e não só.
E assim, os
dias iam passando, aproveitando ao máximo, principalmente os fins de semana e
noites, quando possíveis. Para o trabalho, Sara ia “discretamente” vestida,
tendo só os maiores desvarios que se possa imagina, nas suas horas privadas.
Pessoalmente, achava bem! “Trabalho é trabalho e Conhaque é conhaque”!... Mas
não parecia a mesma!
Problemas
financeiros, não os havia, o que nos permitia levar uma vida desafogada, com
fins de semana, férias, convívios, enfim, uma vida compatível com “classe média
alta”. Há data, ainda vivíamos em casa alugada; um andar na zona da Boavista,
espaçoso, bem localizado, mas com uma grande “falha”: - Não tinha garagem.
Os nossos
dias de semana, iniciavam-se sempre com o levar os filhos ao infantário,
passando pelo local de trabalho da Sara, e após, o que seguia para a minha
vida. O almoço raramente era junto. Vida normal, de um casal aparentemente
normal.
Com a nossa
forma (esquisita) de viver, íamos contudo tendo uma razoável harmonia. Se cada
um enfrentasse a sociedade e suas consequências, e assumisse frontalmente a sua
forma de estar na vida, diria que éramos felizes.
Sem comentários:
Enviar um comentário